sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O Drama da Água

No último final de semana fui visitar mais uma propriedade em Santo Isidro. Mas a pessoa que fui entrevistar acabou não aparecendo. Então, fui conversar com o vizinho, José Carlos Nascimento e sua esposa. Ele está se recuperando de um acidente de moto, e os maiores problemas para ele são o transporte e a água. A estrada até a casa dele é muito ruim e para deixá-los ainda mais desesperados, a Prefeitura passou uma máquina niveladora na estrada próxima, mas não na deles. Mas o pior mesmo é a água. A cisterna que eles usam foi construída pelo programa de cisternas do Governo Federal, e o Exército encarregado de abastecê-la de água quando necessário. Para isso, o interessado tem que ir à Secretaria de Infra-Estrutura da Prefeitura e deixar o seus dados em uma ficha. Mas José Carlos me disse que fez isso a 60 dias, e até agora nada de água. Depois das chuvas relativamente fortes de 15 dias atrás, não choveu mais e a situação só piora. Imagine ficar sem água e sem ter como arranjá-la por estar se recuperando de um acidente. É desesperador realmente. Quanto estava de saída, Gilvan de Sousa, também se recuperando de um acidente, chegou para visitar o amigo José Carlos. O problema de saúde de Gilvan é menos grave, pois ele está com um dos braços imobilizado. Mas ele também reclama da falta de água.
Cabe então à Prefeitura de Campina Grande, responsável pelo cronograma de distribuição de água, agilizar o processo para essas pessoas. E, tão perto da cidade, o ideal seria ter água encanada.  E também ser mais racional na hora de passar máquinas niveladoras nas estradas da região. Todos devem ser atendidos.
Por outro lado, temos que ser sensatos na hora de cobrar. Muitas vezes reclamamos, mas não procuramos os órgãos competentes para expor os nossos problemas. Sei que há uma descrença muito grande em relação ao poder público. Mas não é motivo para nos acomodarmos. Temos que correr atrás.

Cisterna construída pelo Governo

José Carlos e esposa

Gilvan de Souza


Residência de José Carlos Nascimento

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Caminho Da Escola e Aulas Voluntárias

Ultimamente, todo mundo só faz reclamar. Claro que em nosso país existem situações absurdas. Mas, de tanto só se falar em absurdos, acabamos por ignorar as boas iniciativas que existem. Também muito se fala na juventude perdida. Os jovens hoje não querem estudar, não se interessam, não se esforçam. Seria difícil acreditar que, num fim de semana, adolescentes largassem a sua diversão para ter aulas de reforço, por livre e espontânea vontade.
Pouquíssimas pessoas sabem, mas existe um programa conjunto entre Governo Federal e Prefeituras que visa melhorar o acesso dos alunos às escolas, principalmente nas zonas rurais. Se chama Caminho da Escola, e distribui entre os alunos das escolas públicas bicicletas com robustez suficiente para enfrentar o dia-a-dia dos terrenos difíceis das áreas agrícolas, como Santo Isidro.
E, das escolas da região, surge uma geração de alunos interessados em aprender. Atendendo aos pedidos desses alunos, Rubem Alves da Silva, professor doutor da UFCG, dá aulas de reforço em Matemática, de forma totalmente voluntária, preparando-os para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Para ele, é um orgulho e um prazer receber estes estudantes interessados e dispostos.
Mais uma vez digo que, embora não seja fácil, precisamos ter uma visão menos pessimista de mundo, e acima de tudo, fazer alguma coisa para tentar melhorar a vida de quem quer que seja.


Bicicleta do Programa Caminho da Escola
Bicicleta do Programa Caminho da Escola
Prof. Rubem e seus alunos de reforço em Matemática
Alunos concentrados e interessados


A Fé

Um dos aspectos mais importantes da vida de qualquer pessoa é a fé. E fé é o que não falta aos habitantes de Santo Isidro. No último Sábado, fui visitar o Terço dos Homens da Igreja Católica de Santo Isidro. A sua construção é um exemplo da união dos moradores. Um cedeu o terreno, enquanto outros forneceram material e o próprio trabalho para que a igreja tomasse forma. Ainda há muito a fazer, principalmente na parte interna, onde as paredes ainda precisam de reboco e o piso é de cimento. A iluminação também precisa ser melhorada. Mas nada disso impede a realização de eventos e reuniões, como o referido Terço. Cerca de 25 participantes, desde meninos até senhores de idade se reúnem para orar, pedir e agradecer as graças alcançadas. O Terço também serve para que os seus participantes conversem e reforcem o sentido comunitário.

Igreja de Santo Isidro

Terço dos Homens
Tudo é muito simples, inclusive o altar
Participantes do Terço
Nossa Senhora, rogai por nós
Mãe e rainha
A palavra


sábado, 22 de fevereiro de 2014

Patchwork

Ultimamente, parece que no mundo só tem desgraça. Não sei se é por causa da imprensa, cujo principal foco é a violência. Não sei se é por causa do pessimismo de muitos. É claro que a vida está complicada. É só andar pela cidade para perceber a quantidade de coisas erradas que existem, desde os moradores de rua até o trânsito selvagem. Há uma descrença total também nas ações do poder público. Parece que a única motivação dos políticos é o poder, e que os seus eleitores são deixados em segundo plano.
Mas, existem iniciativas que mostram exatamente o contrário. A Secretaria de Cultura da Prefeitura de Campina Grande está promovendo na comunidade de Santo Isidro cursos de patchwork apliquê, ou seja, arte com retalhos. Um grupo de designers, capitaneadas por Renata Arnaud, está ensinando a técnica às moradoras da comunidade. Além do aprendizado, o curso também promove uma maior interação entre as pessoas, criando um senso real de comunidade, de companheirismo. E ainda abre a possibilidade de que as aprendizes possam ter uma renda extra através da comercialização de seus trabalhos.
Ainda não existe em Santo Isidro um local específico para as aulas. Mas a sensibilidade e boa vontade dos moradores em melhor condição, como Palmira Schuster, que gentilmente cede a sua casa, é algo extremamente positivo, que mostra que, mais do que reclamar, precisamos agir.
Estas iniciativas, tanto do poder público, como das pessoas que vivem na região, devem ser divulgadas sempre.

Participantes do curso exibindo seus trabalhos junto com suas professoras

Desenvolvimento do trabalho de patchwork
A alegria das professoras e alunas é algo lindo de se ver
As mães não perdem as aulas de jeito nenhum
A criançada também se diverte
Carinho entre mãe e filha durante o curso

O resultado
Aprendendo


quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

José "Zé Buxinho" de Lima

No dia 11 de Fevereiro de 2014, fui visitar a propriedade de seu José de Lima, também conhecido como Zé Buxinho. Ele é um sanfoneiro de mão cheia, e no Maior São João do Mundo é certo encontrá-lo no Parque do Povo, animando as ilhas de forró.
Em sua propriedade, além de Seu José, vivem mais 11 famílias, totalizando 65 pessoas. Em comparação com outras propriedades da região, esta parece ser a mais carente. As casas são muito simples, e situadas num acentuado declive, cheio de valas escavadas pelas chuvas.

Seu José "Zé Buxinho" de Lima
As dificuldades aqui são maiores, pois eles estão numa área elevada, onde o acesso é mais complicado. Assim como na propriedade de Seu "Briba", as maiores reclamações são em relação ao abastecimento de água. Existem cisternas, mas, durante o período de seca, os moradores são obrigados a comprar água de carros-pipa. Um carregamento custa em média R$170,00, o que gera uma despesa que para eles é muito grande. Segundo Seu José, às vezes a água comercializada por pipeiros é de tão má qualidade, que nem os bichos quiseram bebê-la.

Casa e cisterna. O terreno é bem íngreme e irregular.
O transporte também é um problema sério. Seu José me contou que certa vez, um dos moradores da área precisou de atendimento médico, e tiveram que transportá-lo de carrinho de mão por mais de 5km, até o posto de saúde mais próximo. Em outra ocasião, a netinha de Seu José, de 1 ano de idade, deslocou o braço, no meio da madrugada. Graças a solidariedade de um morador do sítio vizinho, que possui carro, a garotinha pode ser levada para um hospital. Uma das filhas de Seu José tem que caminhar por mais de uma hora até a escola, e mais outra hora para voltar para casa.

Dois dos filhos de Seu José, Vaneide e Vanderlei
O terreno, de solo pobre bastante íngreme, não ajuda muito na hora de plantar, assim como não ajuda ter uma reserva maior de água. Nessa propriedade, há um pequeno barreiro, mas está completamente seco. Os moradores criam alguns animais, como vacas e galinhas.

Casa extremamente simples com um pequeno curral ao fundo
Um dos primos de Seu José e sua casa, cujo piso fica a meio metro do terreno,
por causa dos desníveis

Mais uma imagem que mostra a precariedade do terreno


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Seu Severino "Briba" Dantas

No dia 04 de Fevereiro de 2014, visitei a propriedade de Severino Dantas, mais conhecido como seu "Briba", que é o nome popular da lagartixa. Quando criança, seu "Briba" ficava balançando a cabeça, num movimento semelhante ao do réptil. Daí o apelido.

Severino Dantas, o "Seu Briba"
Conversando com ele, e com seus familiares (na propriedade moram vários integrantes da família, filhos, genros, noras, netos, divididos em 4 casas), fiquei à par de algumas das dificuldades. A principal reclamação é com o abastecimento de água. Seu "Briba" me contou que existe água encanada nas casas que ficam a uns 100, 150m de sua casa. Enquanto isso, ele e sua família tem que depender das cisternas e do barreiro. No período de seca, eles têm que complementar a reserva de água com carros-pipa.

Embora tenha chovido, o barreiro não captou muita água
Outro problema causado pela falta de água na região é o funcionamento irregular do único grupo escolar. Os netos dele sofrem. Para evitar ainda mais interrupções nas aulas, os professores agora pedem aos alunos para que levem a água que vão consumir. O transporte também é um problema, devido às más condições da estrada de terra.

Plantação de mandioca
Na sua propriedade, Seu Briba planta mandioca, feijão e milho, tudo para consumo da própria família. As recentes chuvas, embora bem moderadas, deixaram a terra molhada o suficiente para que ele plantasse a mandioca, que cresce com vigor. Existe até uma árvore de canela, de cujos galhos e folhas pode ser feito um maravilhoso chá  Além disso, ele também cria alguns animais, como vacas e galinhas, que também ajudam à alimentar a família.

Cisterna para captação da água das chuvas
Seu Severino e família
Filha e neta de Seu Briba

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Início

Olá a todos!

Sempre gostei de Fotografia. E sempre gostei da Fotografia dos grandes temas sociais. Um dos fotógrafos que mais me impressionou sempre foi Sebastião Salgado. As suas coberturas sobre as crises humanitárias na África são fenomenais. As fotos dele fizeram com que o mundo tomasse conhecimento de quão cruéis eram as condições dos refugiados, especialmente das crianças.
Nos anos 90, eu fotografava com uma câmera de filme e algumas poucas lentes. Mas deixei a Fotografia de lado por mais de 10 anos, por causa do trabalho. Mas, em 2012, por influência de minha esposa, voltei a fotografar. Como morávamos no Rio de Janeiro, sempre fotografávamos as belezas naturais daquela cidade. Durante alguns meses, trabalhei no Centro do Rio, e, dentro do que eu achava que era a temática social, comecei a fotografar os moradores de rua. Foram inúmeras fotos. Eu sempre as postava nas redes sociais e nos fóruns, para ver as análises sobre as fotos. Mas, um dia, parei para pensar sobre o que estava fazendo. As minhas fotos não estavam mudando a vida de ninguém. Eu estava sendo no mínimo egoísta, ao fotografar as pessoas em condições tão degradantes. Então, parei de fazer esse tipo de imagem. Afinal, todos já estão bem à par da miséria do cotidiano. Ao voltar para a Paraíba, em 2013, eu e minha esposa fomos à algumas cidades do estado para fotografar o que o estado tem de melhor. Mas, eu me sentia mesmo atraído pela questão social.

Santo Isidro, com parte de Campina Grande ao fundo

Nuvens de chuva chegando em Santo Isidro. Infelizmente, elas se dissiparam depois de alguns minutos



Há alguns anos, meu pai foi morar num sítio, que fica a cerca de 5km de Campina Grande. Ele, junto com outros moradores da região, resolveram reativar a Associação de Moradores, que estava parada há algum tempo. Conversando com ele e com outros associados, fiquei sabendo da situação complicada de várias famílias daquela área. Estas famílias eram formadas por pequenos agricultores, que, embora estivessem bem perto da cidade, não tinham acesso aos seus benefícios. E, por se encontrarem tão próximos à cidade, eles eram desconsiderados pelos programas governamentais de incentivo à agricultura familiar.
Ao ficar à par do que estava acontecendo, encontrei uma motivação para fazer um projeto fotográfico. Registrar e divulgar aquela situação tão peculiar e tão pouco conhecida. No fim de Janeiro, comecei a visitar as casas dos agricultores desta região, chamada de Santo Isidro. Assim, fiquei a par de cada um dos problemas que cada família enfrenta. Através desse blogue, e de outras iniciativas, pretendo divulgar, inclusive para o poder público, a situação que estas famílias enfrentam. Quero mostrar também que existem pessoas que se interessam em melhorar a vida das pessoas da região, com iniciativas que usam os programas culturais da Prefeitura de Campina Grande para, por exemplo, ministrar cursos e montar bibliotecas. Todos sabemos dos problemas de administração pública no Brasil. Mas, o que não sabemos, é que existem muitos programas governamentais que podem ajudar muito, se forem adequadamente reivindicados.
A Fotografia tem o poder de realizar transformações sociais, de melhorar a vida das pessoas. E, é este meu objetivo com este projeto.